sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sunburn



Imagine como é ser um super-heroi. 
Imaginou? Certo. 
Imagine descobrir esses poderes aos 17 anos. Se você tem mais de 17 anos, imagine comigo: Você em um dos pontos altos da sua adolescência descobre que tem um poder de fogo, parecido com o "Tocha Humana" do Quarteto Fantástico. 
Gostou? Fernanda Irons também... Só não gostou muito da forma com qual o descobriu. Ficou curioso?
Você deve estar se perguntando "Como descobrir super poderes pode ser ruim? Ainda mais de FOGO, um dos elementos mais poderosos que existem?". Olha, não que eu conheça essa sensação, mas descobrir que você está sendo traída(o) não deve ser uma situação gostosa, nem de longe parecida com um orgasmo ou uma "good trip" de uma droga qualquer. E, acredite, foi assim que ela descobriu: numa visita inesperada ao namorado que havia ido passar o dia na casa de um amigo no centro do Rio de Janeiro. 
Ela chegou ao edifício e o porteiro a deixou subir já que era conhecida. Havia ido várias vezes ali e inclusive, fora lá que conhecera seu namorado. A porta do apartamento estava aberta e o amigo de seu namorado estava jogado quase desmaiado no chão. Ela realmente ficou assustada, porém, assustada com o cheiro forte de álcool e não com o rapaz ali jogado. Mas o que ia lhe assustar mesmo era ver seu namorando montado numa outra garota. 
Imagine: o amor da sua vida transando com outra pessoa qualquer na sua frente. Seria um bom motivo pra você ficar com raiva. Muita raiva. O suficiente para você começar soltar fumaça pela cabeça e pelas pontas dos dedos. E ver teu namorado tentando explicar o que não há para explicar. 
Bem, acontece não é? Você explodir de raiva, descobrir que tem alguns poderes de fogo, tocar fogo no cabelo no cabelo da "moça" que ali estava, explodir uma bola de fogo no peito do seu (ex)namorado e deixá-lo desacordado.


No começo da narração perguntei se você tinha pensado em ser um super herói. Assim como a maioria, Fernanda tinha também. Porém, ao sentir o poder que corria como cargas elétricas por todo seu corpo, ela optou pelo outro lado da moeda. O lado que fazia ela se sentir viva. Isso a tornava uma pessoa ruim? Não pelo o que eu penso. Afinal, o bem e o mal são apenas forças disputando um ponto de vista. 
E na mente de Fernanda Irons, ao sentir as labaredas crepitando em suas mãos, o mal...


ganhou. 

Inimigo meu.

Natthan não era de frequentar a igreja, mas sempre carregava consigo um crucifixo dado por sua falecida mãe. Criado numa doutrina católica pelos pais, sempre sonhou em ser policial. E foi um dos melhores. Era honesto, sempre buscava o melhor para a população local, cuidava de sua forma física -ao contrario dos outros policiais que passavam os dias de patrulha comendo em fast foods como Burguer King e McDonalds, regados a Coca-Cola e Moutain Dew. 
Quando policial de rua na cidade de Bostom, resolveu um caso que apavorou toda cidade: Num dia de rotina qualquer, Nathan e seu antigo parceiro James passavam perto da rua anunciada no radio. Alguém havia feito uma denuncia anônima, sugerindo uma briga de família. Ao chegar no local indicado, foi descoberto que o dono da casa prendia sua própria filha no porão há 13 anos e havia tido 2 filhos com ela, também trancados naquela amostra grátis de inferno. James, no calor do momento, explodiu a cabeça do dono da casa com sua espingarda calibre 12.
Nathan foi promovido ao departamento de homicídios do FBI pelo seu “heroísmo”, foi tachado como herói local e chegou ao FBI com muita fama e status, o que causava inveja a vários outros detetives.
James foi promovido a uma camisa de força.
 Nathan então foi posto para fazer dupla com outro famoso agente dentro do departamento de homicídios: Thomas Manziel.
 Thomas era um cara muito simpático e querido por todos. E logo se tornou muito querido para Nathan também, principalmente depois de conviverem 5 anos juntos. Criaram uma amizade muito forte logo de cara, sendo que Mattew até chegou a apadrinhar a filha de seu parceiro.
Tudo tinha se tornado perfeito até aquela maldita cidade...
Natt e Tom foram enviados até uma cidade pequena que era dividida entre duas famílias os McFarlane e os Walker. As duas famílias rivalizavam há anos pelo monopólio da produção agrária da região. 
Fazia muito frio naquela cidade e chovia bastante, mas a chuva havia dado uma trégua quando os detetives resolveram ir até o local do crime onde a jovem e bela Eva McFarlane, de 16 anos, fora encontra morta e nua, pregada numa arvore sem folhas (a única árvore desnuda de toda a fazenda) com um pentagrama invertido cortado por toda sua barriga. No chão havia crânios de animais e velas derretidas. Na menina foi encontrada a marca de uma cesariana, completamente exposta e aberta, que ia de fora à fora em torno de seu quadril. A quantidade e a coloração escura do sangue indicavam que o corte havia sido feito aproximadamente 72 horas atrás, condizendo com a hora aproximada de sua morte. No ventre da garota porém, não se encontrara bebê algum.
Nathan e Manziel passaram a noite toda acordados, movidos à café bem forte para conseguirem traçar algo que levasse a um culpado. 
Descobriram que a família da moça não sabia de tal gravidez e que ela mantinha o crescimento da barriga escondido com uma cinta modeladora bem apertada. 
Logo chegaram à Benjamim Walker, que segundo as pessoas da pequena cidade, se encontrava com a jovem da família rival e nutria um amor proibido. Quando vasculhado o computador pessoal da jovem Eva, foram encontradas evidências do amor dos dois. E no quarto do jovem foram encontradas roupas e símbolos de magia negra. Ele foi acusado e levado preso, e aos sons de “Eu a amava! Nunca faria uma coisa dessas! Vocês não sabem a verdade podre dessa cidade!” ele conseguiu se desvencilhar de Manziel, roubando a arma do agente e se matando na frente de toda cidade que acompanhava curiosa a prisão do jovem rapaz.
O caso teria terminado ali se uma série de outros assassinatos ligados a magia negra não continuassem surgindo. Os mais graves foram o do prefeito e o do xerife da cidade, Harrison e Mason McFarlane, que tiveram suas cabeças decapitadas e postas aos pés do crucifico da igreja local.
Manziel e Mattew ficaram praticamente uma semana inteira acordados, com quase um assassinato por dia, sendo todos membros da mesma família e colocando os Walker como principais suspeitos. Mas não se pode prender uma família inteira, ainda mais sem provas concretas do crime. Policiais que eram encarregados da segurança dos McFarlane também foram mortos, mas dessa vez, não foram vitimas de rituais satânicos e sim devorados vivos.
O caso ficava cada vez mais macabro e cada vez mais irritante para os detetives que sabiam que a solução era como o vento: ela estava ali, só não conseguiam ver. 
Nathan estava no cúmulo do estresse (que chegou até a dar inicio a uma drástica queda de cabelos) e Manziel... Manziel estava completamente louco, fazendo com que Nattan revivesse o drama de ver um parceiro enlouquecer, dessa vez progressivamente, chegando ao ponto de se questionar se ele tinha razão em agir com toda aquela violência com a qual interrogava as pessoas e bebia no fim do dia. Estaria Nattan Mattew perdendo a sanidade também? Ou seria aquela cidade dissolvendo-o em seu mar de sangue e corpos mutilados?
Maziel havia tirado o dia de folga devido a indisposição causada pelo estresse, má alimentação e noites mal dormidas. Ao fim de um estranho dia de investigações sem assassinatos na cidade, Nattan resolvera voltar ao Hotel onde ele e seu parceiro estavam hospedados. 
Ao chegar no hotel sem estrelas, notou que todas as luzes do local, até mesmo da entrada, estavam apagadas. Nattan sacou a arma e a lanterna e adentrou o local. Na entrada havia 3 pessoas mortas com diferentes tipos de corte em diferentes partes do corpo e no caminho até o quarto onde estava seu parceiro, todas as portas dos outros apartamentos estavam quebradas e seus moradores mortos -desde a velhinha simpática que sempre os levava um bolo de cenoura com cobertura de chocolate até o casal de menores de idades fugidos de outra cidade por seus pais serem contra o namoro que mantinham. À medida que chegava a porta do seu quarto, um calor foi aparecendo, como o de quem se aproxima de uma churrasqueira acesa. A única porta intocada e fechada.
 E foi ao abrir a porta que Nattan Mattew conheceu o inferno. O quarto estava em chamas, das quais não se propagavam pelo resto do hotel. Ajoelhados em uma forma circular e com a testa encostada no chão, encontravam-se pessoas que vestiam roupas parecidas com a de membros da Ku Klux Klan, só que de cor negra. No teto e ao redor do circulo de pessoas havia criaturas sem pele, com línguas de cobra negras, dentes afiados, sem olhos e com algo parecido com sete guelras na altura das costelas. Tinham pés humanos costurados no lugar das mãos, que se mexiam violentamente. Mãos costuradas no lugar das pernas que sustentavam o corpo das criaturas e prendiam a parede as que estavam no teto.
No meio de tudo estava seu amigo, seu quase irmão, chorando sangue, descalço, com olhos negros e grandes assas negras como as de um corvo, rajadas de sangue saindo de suas costas.
Nattan ouviu sua sanidade quebrar como um vidro imenso que se espatifava no chão.
Os membros do culto satânico avançaram sobre ele. No reflexo do acontecimento, o detetive sacou a arma e disparou matando um membro com um tiro certeiro no coração. Nattan Mattew ficou parado apontando para os membros que erguiam a mão para que ele não atirasse.
- Mattew meu amigo... que prazer em vê-lo! – Disse Manziel, ou o que quer que aquilo fosse.
- O QUE ESTÁ HAVENDO? – Gritou Nattan apavorando, sangrando levemente pelo nariz devido ao calor do local.
- Essas pessoas me invocaram do meu porão infernal para terem poder. Para matar, estripar pessoas, degolá-las... em troca, queriam apenas que eu lhe desse poder!  
- VOCÊ NÃO É O TOM! - Gritou novamente, transparecendo a loucura.
- Você tem razão, eu não sou. Tom é só uma luva. Eu sou aquilo que é contra o bem. Eu sou aquilo que destrói. Eu sou aquilo que queima. Eu sou aquilo que mata. – Sua cara se deformou, sua mandíbula cresceu como a de um lobisomem se transformando, aumentando o tamanho de sua gengiva, deixando seus dentes expostos. Começou a babar através dos dentes pontiagudos sangue e um liquido preto que lembrava petróleo.
Uma criança começou a chorar. Atrás de Manziel havia uma cesta e, dentro da mesma, uma criança com poucos dias de vida. Os seguidores do culto deram as costas para Nattan, que ainda mantinha a arma em punho. Ele já estava perdendo muito sangue pelo nariz, e agora também saia pelas orelhas. 
Os seguidores rezavam em língua desconhecida. Nattan queria atirar, mas seu corpo havia travado naquela posição. As criaturas pegaram o bebê de dentro da cesta e o entregaram nas mãos do demônio, que olhou para Nattan, mostrando o bebê e abriu a boca como uma cobra devora uma capivara. Antes de o demônio colocar o bebê na boca Nattan saiu de seu transe. Ao ver a criança ali,  lembrou-se de sua filha quando nasceu, quando a pegou em seus braços pela primeira vez e sentiu aquela pequena vida que contava com ele para existir.
Disparou uma vez contra o demônio. A besta sentiu o tiro.
Disparou uma segunda vez. Um rombo cheio de luz criou-se onde o monstro foi atingido.
Disparou a terceira vez. O demônio fez todos no quarto queimarem e o crucifico de Nattan esquentar até deixar-lhe uma eterna cicatriz. 
O bicho gritou alto de dor. Agora ele rachava como uma parede que é destruída por uma marreta.
Nattan disparou uma quarta vez. Uma quinta vez. Uma sexta...
As criaturas pularam nele, puxando-o para o chão. Uma delas arrancou a sua orelha fora em uma mordida. E mesmo caído, ele acertou mais um tiro.
Nattan acordou com batidas na porta do quarto. O local não estava mais pegando fogo, porém onde havia perdido a orelha sangrava muito. Thomas Manziel encontrava-se nu, de joelhos, olhando para baixo com fumaça saindo de seu corpo e com a criança ainda no colo, que chorava alto. Ao redor havia várias ossadas queimadas do membros do culto.
Os policiais invadiram o quarto e presenciaram a cena.
Caso McFarlane: fechado e arquivado nos aquivos X do FBI.
Nattan Mattew ficou surdo e mudo, viveu entre hospitais e manicômios, revivendo mentalmente o ocorrido naquela cidade macabra. Viu na TV que os membros do culto eram os McFarlane, mas nunca ficou claro o porquê, já que o FBI alterou toda a verdade do caso para “o bem da população”. Mas ele sabia que os McFarlane estavam se sacrificando e de quebra incriminando os Walker. Pobre Benjamim Walker... incriminado pela família rival. Talvez até pela própria namorada. Nunca iremos saber.
O amaldiçoado Nattan Mattew... 

Cujo o copo era tua prisão. Cuja as lembranças eram tuas algemas.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

It's just a shot away...

Jogado ali naquele apartamento escuro estava Jonny Blaze e suas acompanhantes, algumas garrafas de Jack Deniel’s vazias, maços de cigarro Lucky Strike também vazios, um radio-despertador que tocava a musica “Gimme Shelter” e uma Desert Eagle carregada com uma bala na agulha. Uma bala que tinha um objetivo: Ceifar sua vida miserável.
Como um homem chegara a ponto de cogitar cometer suicídio? Imagine um jovem rapaz de 19 anos de vida boa, morava numa casa de cerca branca em uma cidade ao sul dos Estados Unidos. Costumava ir à igreja todos os domingos com seus pais, vivia o perfeito “american dream” e como todo jovem idealista de direita da época, se alistou no serviço militar americano -vulgo, assinou seu passaporte para o inferno. Mas antes de dizer que vamos para o céu ou para o inferno, passemos pelo purgatório, também conhecido como “Treinamento Militar”. Aqueles foram 4 meses de sofrimento, mas nada que se comparasse ao que estava por vir.
O inferno verde. O Vietnã. Se o Diabo tinha caprichado na segunda grande guerra, nesta aqui ele chegou a perfeição. Jonny viu coisas que, como dizem por ai, “jamais poderão ser desvistas”: Viu seus amigos morrem nas incursões dentro da selva; participou das torturas americanas em crianças, idosos e mulheres vietnamitas; entrou em vilas que haviam sido bombardeadas de Napalm; viu putas de cheias de DSTs em Saigon... Acabou fugindo como a maioria dos Americanos, com o rabo entre as pernas, correndo em helicópteros, os mesmos que sobrevoam, metralhavam, e bombardeavam vilas. Porém, o que mais o marcou não foram esses ocorridos e sim um caso isolado. Quando uma menina vietnamita pedira por sua ajuda para socorrer a família, ele não pensara duas vezes antes de abrir um rombo na cabeça da jovenzinha com um tiro de fuzil. E pior, depois encontrar a família da garota à sua procura. Pobre menina.

War, children, it's just a shot away
It's just a shot away”


Ali, no sofá de seu apartamento relembrando o inferno, relembrando os dias de chuva intermináveis na selva, sentiu o cano frio da arma encostando no céu da boca. Sentiu o toque da morte em sua mão, como se ela puxasse aquele gatilho junto com ele. De repente não havia mais sofá... estava no colo da morte como uma criança no colo da mãe que o dava a mamadeira. Só que não era uma mamadeira ali... era uma arma. O fim da sua vida, a sua passagem definitiva pro inferno. Ele fechou os olhos e se deixou levar pela morte. E antes que a escuridão o carregasse para longe desse mundo, pronunciou uma frase rouca...

“God blees you America!”